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sábado, 22 de setembro de 2012

OS CAMPOS DE CIMA DA SERRA E O CÂNION DO MONTENEGRO – SÃO JOSÉ DOS AUSENTES - RS



               No dia 14 de setembro, depois de cruzarmos extensa região de campos e florestas de araucárias, chegamos à Pousada Fazenda Montenegro, no município gaúcho de São José dos Ausentes. Ficamos hospedados sob os cuidados da família Pereira, que brinda o viajante com os mais bem conservados aspectos dos costumes gaúchos. Ali se encontra a rusticidade e a simplicidade da vida nas fazendas dos campos de cima da serra, com destaque para a culinária campeira organizada por Anápio Pereira, persistente defensor das tradições dos galpões (WWW.fazendamontenegro.com.br).

               Estávamos a poucos quilômetros do Pico do Monte Negro, ou Montenegro, como deveria ser a grafia mais adequada. O pico é o ponto culminante do Rio Grande do Sul, com mais de 1.400m de altitude, mas não representa aquilo que o viajante poderia imaginar como tal. Trata-se de uma elevação relativamente discreta, sobre as planuras dos campos de cima da serra, representando um morro testemunho de milenares processos de degradação de relevos basálticos da Serra Geral. Porém, seu aspecto mais marcante constitui em estar situado em imediata justaposição às estonteantes escarpas do cânion Montenegro, que ficou famoso, há alguns anos, quando se tornou cenário de uma reconstituição perfeita de batalhas revolucionárias da série televisiva A Casa das Sete Mulheres.

               O cânion de Montenegro, que examinamos detalhadamente, na manhã de 15 de setembro, é um admirável conjunto de paisagens relacionadas à evolução dos relevos tabulares dos campos de cima da serra, formação de máximo interesse para a Fitogeografia. Faz parte de uma cadeia de diversas outras escarpas íngremes, com quase 1.000m de paredões basálticos, sob cujo sopé se estende a planície marinha de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. São conhecidas como Aparados da Serra, sendo formadas pela erosão de falhas profundas nessa que é a maior formação de basaltos do Planeta: A Formação Serra Geral, que ocupa grande parte da bacia do rio Paraná, até o Centro-Oeste.

               Falar de campos sulinos, até mesmo de campos em geral, no Brasil, sem estudar os campos de cima da serra, seria de fato uma grande omissão. Já afirmamos que eles se relacionam intimamente com o domínio das florestas mistas de araucárias (Araucaria angustifolia – família Araucariaceae), que F. C. Hoehne chamou de Araucarilândia. De fato, o exame dos campos limpos, que cercam penhascos vertiginosos, no cânion do Montenegro, mostrou claramente suas relações mútuas – campos e florestas de araucária – onde incríveis miniaturas dos imensos pinheiros-do-paraná são criadas pelo estresse de solos muito rasos e dos ventos fortíssimos, que açoitam a paisagem, por vezes fazendo a temperatura descer muito abaixo de zero grau.

               Durante o restante do dia, pudemos percorrer diversos pontos de grande interesse, na região de São José dos Ausentes, como resolvemos mostrar nas fotografias adiante, de forma a não cansar os leitores do blog Expedição Fitogeográfica 2012:

Abaixo – O pico do Montenegro é uma elevação convexa, ao lado do vertiginoso cânion do Montenegro, cujos paredões de basalto se projetam abruptamente, na direção do litoral catarinense. Numa segunda imagem mais aproximada, tentamos mostrar alguns visitantes avistados de longe, de forma a tornar mais claras as dimensões dos penhascos.




 

Acima – Pequena serpente da família Colubridae, que foi surpreendida, ao atravessar nosso caminho, em meio aos campos de cima da serra – animal inofensivo.
Adiante – Orlando Graeff posa ao lado de uma floresta de altitude dos aparados da serra, junto ao cânion Montenegro. Essas florestas subtropicais são duramente fustigadas pelos ventos gelados, que sopram o ano inteiro, determinando congelamentos, neve e estresse fisiológico.



 


As últimas fotos da série acima mostram as delicadas orquídeas Hadrolaelia coccinea (=Sophronitis coccninea), que medram aos milhares, nas florestas miniatura das bordas dos cânions, onde permanecem protegidas pelos penhascos.
Abaixo – Riachos murmurantes se formam sobre os campos de cima da serra, onde o lençol freático permanece constantemente suspenso, poucos centímetros abaixo da relva. Ao encontrarem os penhascos, despencam em cascatas inacessíveis de grande beleza, que vão se escalonando, encosta abaixo, como mostra a imagem a seguir.

 

Adiante – Nas bordas dos penhascos, com quase mil metros de paredões íngremes, medram lindas bromélias Aechmea recurvata, que exibiam suas rosetas avermelhadas, juntamente com curiosas cactáceas do gênero Parodia e orquídeas do gênero Maxillaria, que floresciam longe das mãos dos eventuais coletores.



 Adiante – Alguns aspectos da paisagem do cânion do Montenegro, tendo a baixada catarinense e suas colinas litorâneas aos seus pés.





Acima – Os pinheiros-do-paraná ou araucárias (Araucaria angustifolia), usualmente representando enormes árvores, surgem na forma de miniaturas, nas bordas do cânion Montenegro, junto ao pico do mesmo nome.

Abaixo – A queima dos campos de cima da serra é assunto polêmico, contrapondo estancieiros e conservacionistas, cada um apontando suas razões, seja para realizá-la, seja para criticá-la. A matéria precisa ser vista com extremo cuidado e fatoração conjunta econômico-social e científica.



Acima – O Cachoeirão do Rodrigues é um característico exemplo do escalonamento das camadas de basalto da Formação Serra Geral: Patamares formados a partir da gradual exposição dos diversos níveis da rocha.
Abaixo – Aspecto da queima dos campos de cima da serra, que é induzida pelos estancieiros, a cada três anos, em média, com a finalidade de renovar seus pastos. A dinâmica de manutenção desta paisagem se encontra diretamente relacionada com o fogo.


A seguir – Aspecto da vida cotidiana das estâncias dos campos de cima da serra, em São José dos Ausentes.


Adiante – Uma vista interna de fragmento de floresta subtropical, que se entremeia às araucárias do planalto da Serra Geral; E um morrote testemunho da longa história de escultura dos relevos tabuliformes da Serra Geral, por detrás dum fragmento de floresta subtropical mista de araucárias.



Abaixo – Vista de uma estância típica dos campos de cima da serra, no Rio Grande do Sul.


Abaixo – Estradinha cortando trecho de pinheirais quase puros. Essas paisagens quase se extinguiram, no Século XX, por conta da exploração descontrolada da madeira das araucárias.


A seguir – Imagens de outra formação vegetacional em franca extinção: As florestas de xaxim (Dicksonia selowianna – família Dicksoniaceae). Essas samambaias arborescentes também foram intensamente exploradas para retirada do xaxim, para confecção de vasos para plantas ornamentais. Hoje, assim como as araucárias, sua retirada está proibida por lei.




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