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domingo, 4 de março de 2018

NOVA PASSAGEM PELAS FLORESTAS DE ALTITUDE DE ITATIAIA-RJ E ITAMONTE-MG FEVEREIRO DE 2018



Parque Estadual da Serra do Papagaio - MG

Cerca de oito anos após ter atravessado a divisa entre os estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, por cima da Serra da Mantiqueira, na região do Maciço do Itatiaia (ver postagem anterior - http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2018/03/relatos-de-uma-passagem-pelas-florestas.html ), decidi fazer nova investida fitogeográfica, cruzando pelo eixo mais a oeste, na tríplice divisa RJ-SP-MG, contornando o Parque Nacional do Itatiaia pela rodovia que liga a Via Dutra a Caxambu, no Circuito das Águas. Baseando-me na pequena e agradável Itamonte, em Minas Gerais, empreenderia desta vez excursões tanto pela região de ocorrência das araucárias (Araucaria angustifolia – fam: Araucariaceae), quanto pelo Planalto do Itatiaia, que ainda não conhecia, até então.

A viagem ocorreu, como de costume, em meu rumo entre Rio de Janeiro e Mato Grosso, no final de fevereiro de 2018. Chuvas muito intensas vinham marcando os últimos dias, o que não chegou a atrapalhar as atividades. Parece que a sorte me acompanhou, tanto neste bloco de atividades pelas matas de araucária, quanto no dia seguinte, quando visitaria o Planalto de Itatiaia (a ser publicado na próxima postagem), pois estive sempre fora da trajetória das chuvas. O calor, este sim se mostrou realmente um fator incomum, em meio a paisagens cuja altitude mínima andava na faixa dos 1.700m.

Segui a mesma direção da excursão anterior, de 2013, porém em sentido inverso: enquanto naquela ocasião ascendi ao Planalto das Araucárias vindo de Visconde de Mauá, para a cidade de Alagoa, já em território mineiro, desta feita também buscaria a mesma localidade, porém, vindo de Itamonte. Minhas atenções se concentraram nas áreas do Parque Estadual da Serra do Papagaio, unidade de conservação mineira que protege as formações de matas de pinhais e campos de altitude, precioso mosaico de paisagens botânicas relacionadas à Araucarilândia de Hoehne. Em minha obra, intitulada FITOGEOGRAFIA DO BRASIL, UMA ATUALIZAÇÃO DE BASES E CONCEITOS (NAU Editora, 2015), conferi grande importância à ocorrência desses desafiadores ecossistemas de altitude, com índole subtropical, cuja espécie característica é mesmo a velha araucária ou pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia).

Veja a seguir as imagens relacionadas a esta visita ao Parque Estadual da Serra do Papagaio, acompanhadas de comentários a respeito da flora e fitogeografia:

Adiante – Vasta área de encostas inclinadas para o vale de Alagoa, desde os 1.700m de altitude, abrigam florestas de altitude típicas da Serra da Mantiqueira, nas quais nem uma só araucária está presente. A flora predominante é mesmo aquela que se dispersa pelas grandes altitudes das serras fluminenses e mineiras



Acima – A delicada orquídea Gomesa warmingii (=Oncidium warmingii) é típica do sub-bosque dessas matinhas baixas de altitude

Acima – Outra orquidácea bastante comum, nessas florestas em miniatura é Zygopetalum intermedium


Acima – Plantas espinhentas do gênero Eryngium (família Apiaceae) são características dos afloramentos e campos de altitude. Na vegetação original, são pontuais e ocupam áreas úmidas e iluminadas. Nas pastagens, podem predominar e quase inviabilizar o pastoreio, porquanto ferem a boca dos animais, quando estes procuram as gramíneas

A Seguir – Para além dali, um corredor que se estende a norte do eixo da estrada entre Itamonte e Alagoa revela ser a faixa de ocorrência natural das matas de araucárias, tanto quanto dos campos de altitude que compõem o complexo de vegetações relacionadas à Araucarilândia. A paisagem se altera de forma notável e a flora acompanha as mudanças






Acima – Solos expostos na margem da estradinha, por conta de terraplenagens, mostram a natureza historicamente campestre de alguns fragmentos, embora a paisagem, de modo geral, ainda guarde influências do extenso período em que abrigou atividades pastoris, que regularizaram a vegetação, através do fogo e do pastoreio, principalmente

Acima – Essa imagem representa exatamente a complexidade atual de interpretação do mosaico campos - florestas de araucária, que caracteriza a região da Serra do Papagaio: ação do fogo, erosão pretérita (natural) e atual (antrópica), pastoreio e exploração madeireira e lenheira de longa data. O resultado torna enigmáticas a distribuição e as tipologias vegetacionais do presente

Acima – Assim como ocorre com as florestas de araucária do Sul, esta aqui de Minas Gerais encontra pontos de tensão com as vegetações circundantes, aumentando ainda mais a complexidade das fisionomias de vegetação. Nesta imagem, a floresta mista de araucárias se mistura às florestas estacionais semideciduais, com suas árvores frondosas, de índole tropical

A Seguir – Nos capões de floresta de natureza subtropical, que acompanham vales mais dissecados e margens de rios, pode ser apreciada a influência marcante do célebre pinheirinho-bravo (Podocarpus lambertii – Podocarpaceae), que acompanha as araucárias, em quase toda a Araucarilândia. Os pinheirinhos-bravos são elegantes e carregam folhas perenes, que formam como que estufas naturais, sob as quais vegetam miríades de plantas epífitas



Acima – Troncos de Podocarpus lambertii, em meio à vegetação densa, abrigando verdadeiros jardins de bromélias e orquídeas


Acima e abaixo – Exemplares isolados de Podocarpus lambertii, em meio às clareiras, entre os capões de pinheirais, onde hospedam preciosidades botânicas como a orquídea Specklinia grobyi (Pleurothallis grobyi), que forra galhos bem iluminados e arejados




A Seguir - As bromélias Aechmea distichantha são importantes na Serra do Papagaio, vegetando de forma praticamente idêntica à que fazem, em boa parte da floresta mista de araucárias do Paraná, área central da Araucarilândia. Veja como ela surge, tanto no interior dos capões escuros, quanto em suas bordas e sobre árvores isoladas, onde assumem tonalidades avermelhadas, bastante decorativas




Abaixo – Paisagens campestres, herdadas em parte da natureza regional, em parte da pecuária decadente, exibem quadros belíssimos, na Serra do Papagaio: intensas florações de melastomatáceas do gênero Chaetostoma










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